FOME E DESESPERO
Com o tema “Apoiar o futuro da Síria e da região”, a VI Conferência de Bruxelas decorreu nos dias 9 e 10 de maio, tendo reunido representantes de doadores, Estados de acolhimento de refugiados, agências da ONU e ONG. Presentes neste espaço, a Caritas Europa e a Caritas Médio Oriente e Norte de África (MONA) defenderam que a Conferência devia enviar uma forte mensagem de esperança e de resiliência ao povo sírio. Depois de 11 anos de crise prolongada, a fome na Síria aumenta e as pessoas perdem a esperança.
Na Síria, mais de dois terços da população precisa de assistência humanitária. Mais de 90% das pessoas vivem abaixo da linha de pobreza mundial, devido à recessão económica global causada pela pandemia, pelo impacto das sanções e pela crise política e económica no Líbano.
O poder de compra da população síria foi fortemente abalado com as altas taxas de inflação, o consequente aumento dos preços e a desvalorização da moeda. Mesmo antes dos efeitos do conflito na Ucrânia, os preços dos alimentos básicos, em 2021, já tinham duplicado, e estimava-se que 55% da população já sofresse de insegurança alimentar. Até meados de 2021, a Síria estava entre os dez países com maior insegurança alimentar em todo o mundo.
Apenas uma em cada quatro crianças é nutrida adequadamente. O continuado conflito na Ucrânia está a desencadear novos aumentos no preço dos alimentos básicos e nos combustíveis, com consequências catastróficas.
Em 2021, três quartos das famílias não conseguia satisfazer as suas necessidades básicas, pois o rendimento médio de uma família apenas conseguia cobrir metade das despesas, bem abaixo dos 80% em 2020. O acolhimento de refugiados também sofre com esta situação, sendo evidente no Líbano, onde a inflação é de 400%, desde 2019, e o preço dos alimentos e dos combustíveis não para de aumentar.
Na Síria, cerca de uma em cada duas pessoas vive em áreas contaminadas por engenhos explosivos, que continuam a ferir e matar civis, dos quais mais de metade são crianças. 4,2 milhões de pessoas a precisar de ajuda são pessoas mutiladas, resultantes do conflito armado. A Síria agora tem uma das maiores taxas do mundo de pessoas com deficiência.
Faltam medicamentos essenciais, equipamentos e suprimentos médicos, sobretudo para o tratamento do cancro. Mais de 50% dos profissionais de saúde deixaram o país e a fuga dos mais competentes, em todos os setores, não para de aumentar. No que respeita a situação dos refugiados, o ACNUR estima que mais de um milhão têm pouco ou nenhum recurso financeiro. No Líbano, por exemplo, nove em cada dez vivem em extrema pobreza.
Com menos de 50% do financiamento necessário, a Síria, em 2021, viu a sua capacidade de resposta às necessidades humanitárias muito limitada. O mesmo aconteceu este ano com o Líbano, pois dos 534 milhões de dólares orçamentados para 2022, o ACNUR só conseguiu garantir 13%, com o impacto do conflito na Ucrânia a aumentar a necessidade de maior ajuda. O inadequado apoio dos doadores aos países de acolhimento de refugiados desencadeia pressões políticas com impacto na concessão de asilo.
Texto: Cáritas Europa, Caritas MONA; com tradução e adaptação CDL; fotografia: Cáritas Europa, Caritas MONA e Google Pics