Cáritas Diocesana de Ragusa – 50 anos de prevenção ao serviço dos invisíveis
Depois de constituída em 1972 a Caritas Italiana, a Cáritas Diocesana de Ragusa, na Sicília, foi uma das primeiras em toda a Itália a seguir-lhe o exemplo, em 1975. Com 49 anos de existência, a Cáritas de Ragusa prepara-se para celebrar em 2025 os seus 50 anos. Os seus padres fundadores, fiéis ao pensamento do Papa Paulo VI, apostaram numa ação pedagógica e preventiva dos problemas, envolvendo as comunidades locais, abandonando assim uma abordagem mais assistencialista dos mesmos. Seria sempre necessário responder a situações de pobreza, mas o desafio maior no território da diocese estava no trabalhar a sua prevenção. Evitar o abandono escolar, a exploração de quem trabalha, a violência sobre as mulheres, a solidão, o isolamento e todo o tipo de carência tem sido o principal foco da sua ação, ao longo dos anos. Com respostas muito individuais, que vão ao encontro de cada história e das suas necessidades, a Cáritas de Ragusa faz, em pequenas habitações, o acolhimento de mulheres traumatizadas, vítimas de violência, grávidas, isoladas e sós. Responde a pessoas em situação de sem abrigo, a quem também oferece não o albergue ou o dormitório, mas um quarto personalizado. Faz o atendimento de pessoas que procuram o seu auxílio, distribui roupa, alivia a pobreza alimentar através de refeições de qualidade e de mercearias sociais, onde as pessoas podem adquirir os bens de que precisam. Tem também uma intervenção nas escolas, ações com os alunos a quem propõe o voluntariado no apoio aos seus projetos. E não esquece os reclusos, a quem visita e acompanha com muita regularidade. Sair, ir ao encontro das periferias, respondendo ao repto do Papa Francisco, é o que a Cáritas de Ragusa procura fazer todos os dias. A sua ação é real, não é abstrata, e dela fazem parte outras forças, outros agentes sociais locais, pois a abertura à cooperação com outros, num trabalho em rede, é a sua forma de estar e de intervir, e da qual muito se orgulha.
A imigração no território da diocese é uma realidade à qual procura responder diariamente. Acate, uma cidade da província de Ragusa, é a que contém a maior percentagem de imigrantes em toda a Itália, em relação a sua população. Aqui, um em cada três é imigrante. 30% da população de Acate é imigrante. Esta é uma região com um número infindável de estufas, conhecida por “faixa transformada”, onde trabalham centenas de tunisinos, romenos e albaneses. Dormem em garagens, armazéns e dentro das próprias estufas. A habitação é muito cara e por conseguinte muito pouco acessível. Há produtores jovens que procuram tratar os seus trabalhadores com alguma dignidade, mas a grande maioria não tem qualquer tipo de humanidade – uma situação que a Cáritas de Ragusa procura denunciar, mas que não é fácil de abordar. O projeto que tem na Marina de Acate, com 10 anos de existência, foi pensado para ir ao encontro dos imigrantes que aqui vivem, pessoas que continuariam a ser invisíveis para os poderes públicos ou para a própria comunidade, se não fosse a ação da Cáritas. Quando o projeto foi iniciado, não existia absolutamente nada na Marina de Acate que respondesse às necessidades dos imigrantes. Falamos sobretudo de questões que dizem respeito à regularização e à exploração laboral. Passados 10 anos, a Cáritas não só continua a investir nesta sua intervenção, envolvendo outros parceiros, como fez com que outros serviços fossem criados. Hoje a Marina de Acate tem uma escola materna para crianças dos 3 aos 6 anos de idade. Com este seu projeto, a Cáritas de Ragusa acolhe e orienta famílias, sobretudo as mães e os seus filhos. Oferece apoio jurídico e cuidados de saúde com a colaboração generosa de um advogado, dois médicos e um enfermeiro. São diversos os laboratórios, da aprendizagem da língua italiana à música. Hoje este projeto apoia cerca de 300 crianças e adolescentes, todos filhos de imigrantes. No início eram apenas 18. Com a colaboração da organização Save the Children, a Cáritas conseguiu ir mais longe na ação que desenvolve diariamente com os mais novos. Na tarde em que visitamos este projeto, a Cáritas despedia-se do advogado que aqui fez voluntariado durante 10 anos e dava as boas vindas à advogada que iria continuar o seu trabalho. Este é um projeto da comunidade para a comunidade. E é com ela, com a cooperação de cada um, com o que cada um tem e sabe fazer, que a inclusão de todos se faz.
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Não deixe de ver os dois videos em baixo, sobre a condição em que vivem centenas de imigrantes na Marina de Acate.