COP 27
Uma grande delegação da Caritas Internationalis, com representantes regionais e nacionais, participou na COP 27, Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas 2022, ocorrida em Sharm-el Sheikh, no Egito, entre 7 a 18 de novembro.
Nas palavras do secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John, esta participação foi “uma oportunidade para defender a justiça climática e chamar a atenção do mundo para as condições das comunidades vulneráveis e seus sofrimentos, como resultado das alterações climáticas, mesmo que não sejam diretamente responsáveis por isso.” E porque as alterações climáticas têm tido um grande impacto na atual crise alimentar e migratória, o secretário-geral advogou que “a comunidade internacional, e especialmente os Estados responsáveis pela degradação da nossa Casa Comum, devem agir imediatamente”.
Com base em exemplos muito concretos, no Egito, a Cáritas pediu aos Estados um maior compromisso para lidar com as chamadas “perdas e danos”, tratando-se dos impactos negativos irreversíveis, causados por eventos climáticos extremos relacionados com as condições atmosféricas.
Como relatou a Caritas Fiji, o ciclone tropical Winston afetou 57% dos meios de subsistência relacionados com a agricultura, e causou danos estimados em 1,42 bilhão de dólares americanos (cerca de 30% do PIB), afetando 540 mil pessoas. Na Ásia, a Caritas Filipinas revelou que o tufão Rai causou, no país, danos no setor agrícola, no valor de 210 milhões de euros, e de 55 milhões de euros no setor das pescas. Estes exemplos mostram como é urgente investir em medidas de perdas e danos e de adaptação às alterações climáticas, nomeadamente em estratégias destinadas a prevenir ou minimizar os danos que as alterações climáticas podem causar.
Aloysius John defendeu ainda que é necessário “um mecanismo de financiamento confiável e abrangente, que ajude os países a lidar com perdas e danos induzidos pelo clima, pois os países mais vulneráveis afundar-se-ão ainda mais na sua dívida e na pobreza, sempre que forem atingidos por desastres climáticos, pelos quais não são responsáveis.” Neste sentido, a Cáritas destacou a necessidade de que o financiamento climático não seja disponibilizado na forma de empréstimos, o que sobrecarregaria ainda mais o crescimento económico dos países em desenvolvimento, mas na forma de doações.
A resiliência das comunidades locais às alterações climáticas também depende da agricultura, um dos principais tópicos da COP 27, pois a agricultura desempenha um papel central nas políticas das alterações climáticas e no fazer face à grave insegurança alimentar atual, existindo necessidade de maior investimento no setor agrícola, com foco em inovações que construam sistemas alimentares locais sustentáveis, enraizados nas realidades locais, inclusivos e resilientes aos choques climáticos em todo o mundo. Atualmente, apenas 1,7% do financiamento climático vai para o setor agrícola, com uma fração questionável apoiando pequenos agricultores.
A Cáritas também instou a aproveitar as experiências e práticas das comunidades locais, cujo conhecimento de como cultivar e maximizar o uso dos recursos disponíveis localmente já trouxe benefícios inquestionáveis de adaptação e mitigação. Numa altura em que as alterações climáticas continuam a tornar os recursos mais escassos e a pegada de carbono mais significativa, a Cáritas exigiu que os Estados garantissem que a ciência reflete e integra a experiência vivida e o conhecimento local, na resposta às alterações climáticas.
Texto: Caritas Internationalis, com tradução e adaptação CDL; fotografia: Google Pics