Ao serviço das periferias
“Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias” (CSL, 53) é o tema proposto pelo Patriarcado para este tempo de graça que nos é dado viver. Não falamos só das periferias geográficas, isto é, os lugares periféricos da sociedade, normalmente caracterizados como sendo os lugares mais pobres e negligenciados do nosso espaço geográfico. Falamos também das periferias existenciais, isto é, aquelas situações humanas de sofrimento e abandono a que são votados tantos nossos irmão e irmãs, sobretudo idosos e doentes, assim como grupos humanos discriminados por causa da sua cultura ou cor da pele.
Em tempos de pandemia, estas periferias tornaram-se muito mais evidentes, pois é aqui que o sofrimento é maior. A nossa atividade como comunidade missionária, sobretudo nestes tempos difíceis, tem como grande objetivo ajudar a mitigar as consequências da pandemia e ajudar as pessoas a experimentar o amor de Deus que se torna presente, também através da nossa presença, das nossas palavras, dos nossos gestos e das nossas atitudes.
Este tempo difícil, foi essencialmente vivido em estado de emergência que nos obrigou a viver em constante estado de adaptação para podermos responder às necessidades de cada momento. Isto exigiu de nós uma grande capacidade de adaptação e proporcionou-nos a oportunidade de vivermos com maior liberdade o tempo que o Senhor nos foi dando para estarmos mais próximos das pessoas, conhecendo melhor as suas dores e as suas esperanças.
As atividades de recolha e distribuição de bens doados aumentou substancialmente durante este tempo, seja pelas necessidades criadas, seja por uma sempre maior sensibilidade de tanta gente para as necessidades das famílias carenciadas.
A par com a situação dramática de necessidades materiais, deparámo-nos com o drama da solidão e do abandono de tanta gente, sobretudo idosos e doentes que vivem sozinhos em suas casas. Muitos queriam simplesmente desabafar ou pedir que passássemos por sua casa para conversar e ter um pouco de companhia. Deparámo-nos assim com uma necessidade crescente de estarmos mais próximos das pessoas, fazendo-lhes sentir a presença de alguém que se preocupa com eles.
Este é um momento de ação de graças. Ao avaliarmos este tempo de pandemia, sentimos de forma muito concreta a presença de Deus nos nossos caminhos e afazeres, na nossa oração, no silêncio e no isolamento ao qual fomos submetidos várias vezes. É impressionante notar que, como algumas pessoas nos fizeram ver, das sete (7) comunidades religiosas presentes na nossa área, só as três cujos membros estiveram sempre em contacto com a gente dos bairros (Irmãzinhas de Jesus, Combonianas dos Fetais e Combonianos de Camarate), não apanharam a Covid-19. Todas as outras comunidades, tiveram a doença com alguns óbitos pelo meio.
A pandemia colocou a descoberto a incapacidade e falta de vontade, por parte das instituições governamentais, para dar resposta às situações de emergência que surgiam diariamente nos nossos bairros. Lembramos concretamente o grande número de famílias que não receberam qualquer tipo de ajuda do estado, só porque não tinham os seus documentos em ordem, incluindo centenas de crianças em idade escolar.
Olhamos para o futuro com um grande otimismo e esperança, porque a pandemia suscitou também um grande movimento de solidariedade como os mais carenciados que se manifesta numa maior partilha de bens essenciais, e serviço de voluntariado.
Um novo amanhecer está a nascer. Pedimos ao Senhor que, da nossa pobreza, faça acontecer o Reino.
Texto e fotografia: Irmão Zé Manel e Padre Horácio Rossas – Missionários Combonianos por bairros de Camarate, Loures