Deixei a Guiné-Conacri e a minha família há três anos. E chorei, pois não sabia se tornaria a vê-los. A minha família é pobre. Não tínhamos dinheiro suficiente para nos alimentarmos. Na verdade, não tínhamos nada, não tínhamos como pagar o aluguer da casa, e enfrentávamos problemas de saúde.
Iniciei a minha viagem tendo por primeiro destino, Bamako, no Mali, onde conheci um homem que me convenceu a prosseguir até Marrocos, e que dali poderia depois seguir para a Europa. Desloquei-me até Gao, uma cidade no centro de Mali, para poder depois continuar a viagem pelo deserto, na companhia de outras pessoas de países como o Senegal, a Costa do Marfim, e também da Guiné.
Um enorme camião transportou-nos até a base dos tuaregues, Kidal, no deserto, que nos atacaram e roubaram, e onde ficámos quatro dias, a água e biscoitos. Continuámos depois até à Argélia. Ali chegados, debaixo de incontornáveis negociações entre contrabandistas e guardas da fronteira, tive de arranjar trabalho num estaleiro de obras. Conseguimos chegar a Marrocos passado algum tempo, por Oujda e depois Nador, onde está uma fronteira com (o enclave espanhol de) Melilla, cercada por vedações cobertas por arame farpado.
Tentámos saltar as vedações, debaixo das pedras e dos bastões de madeira dos militares marroquinos, e foi numa dessas tentativas que parti o pé. Engessado e sem que me tivessem operado (pois não operavam gente como eu), viajei até Rabat para bater à porta da Cáritas. Foram eles me deram roupas, remédios, me alojaram e apoiaram durante dois anos, até poder ser operado. Hoje posso andar bem e estou muito feliz por a Caritas me ter ajudado a mim e a muitos outros migrantes em Marrocos.
Texto e fotografia: Caritas Rabat; tradução e adaptação CDL