Uma esperança chamada bordado e croché
“Conceição, onde está a Conceição? Ela não vem?” – Perguntavam alguns, ao chegar. Outros referiam que era mesmo melhor que não aparecesse, até para não correr o risco de apanhar alguma gripe.
Na entrega dos diplomas e certificados a mulheres ciganas, mães, jovens e mais crescidas, o nome que mais se ouviu foi certamente o da Conceição Rolo – alma da Associação ALEM.
À hora do lanche, já no final da festa, a Cáritas de Lisboa ausentou-se sem saber se a Conceição ainda iria aparecer. Tinha estado hospitalizada durante várias semanas, e um dia após a sua alta, não era de todo aconselhável andar na rua. Mas aquela festa tinha o seu dedo, a sua criatividade e paixão, e quando assim é, por vezes não há doença que nos possa deter ou impedir de estar e participar.
Mas ainda que o nome mais falado tivesse sido o da Conceição, o centro daquele momento não era ela, mas aquelas senhoras que tinham acreditado que podiam fazer coisas bonitas com as suas mãos, integradas num programa de preparação para a vida ativa.
Aquele foi verdadeiramente um momento de real esperança natalícia, que não se rende ao desemprego, à solidão, à escassez de bens de primeira necessidade, à constante violação de direitos e deveres e até à rigidez das tradições.
Não saberemos dizer qual o povo ou grupo mais odiado da terra, mas sabemos que a comunidade cigana não é das mais amadas por razões tão impregnadas frequentemente de preconceito.
Mas ontem, ao som de um piano e de uma fantástica voz lírica, mulheres ciganas provaram que são também elas dotadas de talento, e que quando de vontade férrea e teimosia se esforçam, a obra ganha forma. E ela ali estava aos olhos dos presentes, para ser vista e apreciada.
Nada poderia existir de pior que tentar tornar os outros iguais a nós. Mas aprender uns com os outros e colaborar pacientemente na construção de caminhos sustentáveis e inclusivos, não poderão deixar de existir como alicerce de uma melhor coesão social.
Este o caminho.
Texto e fotografia: CDL
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