Cumprir o direito do dever de trabalhar | Desafios lançados à Cáritas em Famalicão da Nazaré
Celebrar o Dia Internacional da Caridade, um encontro organizado pela Caritas Diocesana de Lisboa, com o apoio generoso da Cáritas Paroquial de Famalicão da Nazaré, superou todas as expectativas. Alguém dizia, no final, e de olhos muito felizes, que não tinha visto ninguém só e triste entre os participantes. De facto, o ambiente foi de uma verdadeira e contagiante alegria e informalidade.
Com o tema Conhecer, Discernir para Melhor Agir, a manhã, pela voz dos quatro principais oradores-convidados, fez notar que as religiões tradicionais inspiram atualmente muito pouco o social, mas que o social busca espiritualidade, que as pessoas continuam a procurar um sentido para as suas vidas, mas à margem das confissões religiosas. Maria Engrácia, a socióloga do grupo, refletiu a ignorância que se apodera das pessoas, por culpa fundamentalmente da Igreja, da sua hierarquia, depois que estas fazem o Crisma, e a formação espiritual parece ter ficado por ali. Não admira que os jovens cultivem tantos outros interesses e prefiram outros ambientes.
Curiosa a reflexão que o empresário José Guia fez sobre o trabalho, não enquanto direito, mas dever de cada um. Trabalhar é cuidar da nossa Casa Comum, e desse cuidado ninguém pode ser dispensado ou dispensar-se. O direito ao dever do tralhado é o que cabe diariamente às instituições de ajudar a cumprir. Assistir no imediato será sempre necessário, mas as instituições não podem ser fator da instalação das pessoas na sua pobreza. É urgente uma nova formação, escola, capacitante e formadora não de “doutores”, mas de pessoas que respondam efetivamente ao trabalho que é preciso fazer.
Também nesta linha, a vereadora do Pelouro da Ação e Direitos Sociais da CM da Nazaré, Regina Piedade, sublinhou a importância da autonomia pela via do trabalho, que assistir não chega, não resolve as dificuldades de ninguém, e que uma intervenção em rede, alicerçada sobre a comunidade, é extremamente crucial.
A importância e a urgente necessidade de existir uma resposta organizada, que responda prontamente às necessidades, foi pensada enquanto se refletia a “vocação transcendente da Cáritas”. Rita Valadas, Presidente da Cáritas Portuguesa, enfatizou isso mesmo, de como cada Cáritas no terreno é um pequeno-grande tesouro no serviço aos mais vulneráveis, e que a pobreza não é uma taxa, mas a realidade de alguém que têm sido sistematicamente abandonado no cumprimento do seu dever de trabalhar, de participar, de cuidar.
Esta uma brevíssima síntese de alguns dos pontos que irão agora certamente ajudar os participantes a planear o seu AGIR, e outros que venham a ter acesso às intervenções escritas de quem animou a profunda troca de ideias e experiências.
O almoço, no final na manhã, verdadeira dádiva da Cáritas Paroquial e da terra, foi uma perfeita confraternização, difícil de se deixar no adeus e regresso a casa.
Texto e fotografia: CDL