Carta aos diocesanos de Lisboa no início do ano pastoral 2022-2023
Caríssimos irmãos e irmãs, com a muita estima e consideração que vos devo:
1. Iniciamos o ano pastoral 2022-2023 com o horizonte cada vez mais próximo e definido da Jornada Mundial da Juventude, que se realizará entre nós na primeira semana de agosto de 2023. Com o Papa Francisco, queremos que ela seja para grande número de jovens de todo o mundo uma ocasião por excelência de renovar a esperança e reforçar a solidariedade, após tempos difíceis de pandemia, guerras e dificuldades de subsistência em geral.
Certamente que nada se resolverá num ápice, mas ainda mais certo é o facto tão comprovado destas Jornadas, em torno de Cristo e do Evangelho, animarem a muitos no caminho do bem e da paz. – Assim acontecerá de novo!
Neste sentido, a comunicação diocesana (Voz da Verdade e internet) vai dando informação constante e atualizada sobre o que se faz nos vários níveis. É muito importante que todos sigamos essa informação e correspondamos ao que é pedido, pela importância excecional da JMJ e pelos recursos humanos e de todo o género que ela exige.
Tomemo-la como oportunidade para praticarmos aquela “sinodalidade” que hoje é tão requerida na Igreja local e universal. A realização da Jornada só pode acontecer como “caminho conjunto”, em que as capacidades de cada um são reconhecidas e suscitadas, rumo a um objetivo comum e evangelizador.
Creio mesmo que a atividade dos comités paroquiais, vicariais, diocesanos e outros, em colaboração com o central (COL), incluindo tantos milhares de jovens nas mais diversas tarefas, criará um bom hábito de participação, decisão e iniciativa que permanecerá e revitalizará as nossas comunidades, tornando-as mais corresponsáveis e missionárias. – Poderá ser mesmo esse o principal fruto da JMJ, com largo futuro por diante!
2. Ainda sobre a Jornada e a sua preparação, permito-me insistir na primeira condição do seu êxito. Refiro-me à oração. A oração com que Jesus sempre iniciava e marcava a sua ação, pois tudo fazia “a partir do Pai”. Com Jesus e com Maria, constante “Serva do Senhor”, teremos de garantir em Deus tudo o que pudermos realizar. Peço encarecidamente para que em todas as comunidades se reze sempre e muito pela JMJ e os seus frutos, que hão de ser de santidade, acima de tudo. Sei que as comunidades de vida contemplativa da nossa diocese já o fazem com especial aplicação. Façamo-lo nós todos também, pessoal, familiarmente e em grupo.
3. O apelo à participação na JMJ integra-se no caminho sinodal que toda a Igreja percorre neste momento, entrando agora em fase continental, depois de ter passado pela diocesana, como aconteceu entre nós. De um modo geral, sobressaem os apelos ao reconhecimento da qualidade batismal de todos os fiéis e da respetiva capacitação para a vida da Igreja, na variedade dos carismas e dos ministérios, laicais ou ordenados, todos eles respeitados e valorizados.
Também isto requer mais vitalidade e prática nas instâncias de participação comunitária, que não são apenas canónicas e administrativas, mas modo autêntico de crescer em comunhão – outro nome da santidade. A instituição prevista nos ministérios de catequista, leitor e acólito, com o conteúdo que o Santo Padre recentemente lhes deu, para leigos e leigas, também irá nesse sentido.
4. Não posso deixar de aludir às notícias de abusos sexuais que foram aparecendo entretanto. Já tive ocasião de explicar o que se fez e continuará a fazer na diocese, para corrigir e prevenir tais casos (cf. “Carta Aberta” de 29 de julho, disponível no “site” do Patriarcado de Lisboa). Podem reler o que então escrevi e tive ocasião de comunicar pessoalmente ao Papa Francisco, na audiência de 5 de agosto, gentilmente concedida.
Retomo o que disse na última Missa Crismal, dirigindo um pedido de perdão institucional e convicto a quem foi vitimado e garantindo tudo fazer para que tais casos não se repitam, ou tenham tratamento eficaz entre nós, seguindo as determinações civis e canónicas, como aliás temos feito também no âmbito da Comissão Diocesana de Proteção de Menores, a trabalhar desde 2019. É o nosso indispensável contributo para a resolução dum problema que surge na sociedade em geral. No campo institucional, é inegável que a Igreja Católica em Portugal está na primeira linha da resposta a tão grave questão. E não poderia ser doutro modo.
5. Caros irmãos e amigos, continuemos com Deus e Nossa Senhora, que “partiu apressadamente” ao encontro de Isabel, simbolizando esta a todos os que esperam o Cristo que lhes havemos de levar. – Para isso existimos como Igreja e para tal nos dispomos agora, no início do novo ano pastoral!
Convosco, sempre grato e ao dispor,
+ Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa
1 de setembro de 2022, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação