NÃO HÁ CÁRITAS PAROQUIAL COMO A DE ALCOBAÇA
A tragédia dos incêndios do ano passado tocou muita gente pelo mundo fora, e também comoveu o coração de jovens da Cáritas de Alsácia. Por isso, fazer alguma coisa por pessoas em Portugal, por comunidades e organizações, não tendo estas de ser, as que de alguma forma tivessem estado envolvidas ou expostas aos fogos, foi razão suficiente para que cinco jovens, acompanhados por uma responsável da Cáritas de Alsácia (Annick Gasser), decidissem fazer dias de voluntariado em Portugal. Para tal contactaram a Cáritas Diocesana de Lisboa, e foi com ela que um soberbo programa de voluntariado se construiu, com uma dimensão cultural, ambiental, espiritual e histórica muito forte.
A ideia de levar os jovens a viver o seu voluntariado em Alcobaça surgiu no seguimento do que a Semana Nacional Cáritas deste ano tinha conseguido ser e realizar nesta paróquia. A criação de uma Cáritas Juvenil nesta localidade, face à quase total ausência de jovens com fortes e contínuas ligações à Cáritas Portuguesa e Cáritas Diocesanas, tinha sido uma das maiores conquistas da Semana Nacional, mas a precisar necessariamente de estímulos fortes, para que o entusiasmo dos dias não esmorecesse, e por fim se apagasse. O voluntariado dos jovens da Cáritas de Alsácia poderia também servir perfeitamente este propósito. No final, esta ação só se tornou de todo possível, porque a extraordinária Caritas Paroquial de Alcobaça lhe serviu de alicerce, de suporte inabalável.
Procuraram apoio local entre a Câmara Municipal a Junta de Freguesia, a Santa Casa da Misericórdia, a EPADRC, os The Gift, entre outras entidades e famílias, e o alojamento, a alimentação e o transporte ficaram imediatamente resolvidos. É que toda a gente conhece a Cáritas Paroquial da terra, por isso, quando esta pede ajuda, todos sabem em quem investem tempo, dinheiro, bens e equipamentos.
Os jovens chegaram a Alcobaça no dia 4 de Julho, transportados pela Cáritas de Lisboa, e no dia 5 já estavam a trabalhar na horta comunitária, para colherem mais de 200 alfaces, que viriam depois a ser distribuídas pelas quatro organizações gestoras do projeto. Mas o seu voluntariado estava pensado para ir muito mais além da manutenção da horta. O apoio aos idosos do Lar da Misericórdia, viria a ser, nas palavras da Annick “uma descoberta, um mundo totalmente desconhecido, e por conseguinte de difícil abordagem. Ajudar alguém a comer, a deitar-se… levou-nos a refletir sobre o envelhecimento e a dependência, e a saber aproveitar a vida.”
Uma semana passa muita rapidamente. Era o tempo que traziam para Alcobaça. Por isso, fora das horas de voluntariado dadas à horta e a duas organizações da terra, os jovens não podiam perder de todo a oportunidade de visitar o Mosteiro, a cidade da Nazaré, agora que esta está cada vez mais no mapa do mundo pelas ondas gigantes, e de ouvir a história de Aljubarrota. E ainda havia Fátima. No arranjo do programa, Fátima tinha sido, desde o início, um local que os jovens queriam muito visitar.
Neste momento, em que partilhamos esta experiência, os jovens ainda se encontram entre nós. Depois de Alcobaça, tinham em agenda visitar Lisboa e depois o Porto, de onde regressam à França, no dia 20 de julho. É a primeira vez que vêm a Portugal, e parecem encantados. Apreciaram muito a gentileza e a generosidade da Cáritas de Alcobaça e o facto de ali terem encontrado muita gente que falava o francês, permitindo, nas palavras de Annick, “a partilha”.
Grande parte dos jovens que constituem a Caritas Juvenil, fazem neste período estágio fora da terra. Mesmo assim, foi possível alguma interação entre eles no final de cada dia. A presença de jovens, sobretudo de Lisboa e do Porto, na Estalagem do Cruzeiro (Aljubarrota), também permitiu o encontro com aqueles que farão parte do futuro deste país. A aposta no intercâmbio, depois desta experiência, é o que fica desde já por desenvolver muito brevemente, entre outras formas de cooperação entre Cáritas de diferentes países.
Se os dias que os Jovens da Cáritas de Alsácia passaram em Alcobaça foram um sucesso, estes devem-se, sem qualquer margem de dúvida, ao conjunto de senhoras que compõem a Cáritas local. Nas palavras da sua Coordenadora, Dona Nicha, a passagem destes jovens não podia ter acontecido em melhor altura. A ajuda que deram na manutenção da horta comunitária e o carinho deixado no lar da Misericórdia foram extraordinários. Mas estes não teriam tido o entusiasmo e a energia que tiveram se não fosse pela retaguarda que cada uma deles teve. Hoje os jovens franceses têm mães adotivas em Portugal e por isso prometeram voltar, um dia.
Texto e fotografia: CDL
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